Chicletes e bom ânimo por 2 reais


Vez ou outra vou de ônibus para o trabalho para deixar o carro com minha esposa, quando ela precisa resolver algum problema durante o dia. Não vejo problema nenhum nisso, pois quando ando de ônibus quase sempre presencio situações ou histórias que merecem ser contadas (ou escritas num blog).

Hoje, uma segunda-feira meio nublada, peguei o ônibus de manhã com a disposição que uma segunda-feira pode oferecer, ou seja, muito pouca. Cheguei na parada bem na hora que meu ônibus estava chegando, poderia ter perdido, mas peguei. Digamos então que isso foi bom.

Pouco tempo depois, ouvi a voz de um senhor dentro do ônibus que parecia estar conversando com alguém, mas depois percebi que ele estava vendendo alguma coisa. "Hora do lanche!", dizia ele com empolgação. "Promoção relâmpago! Tem paçoca, amendoim, halls, tudo original!" Uma senhora riu quando ele disse isso, mas não foi suficiente para fazê-la comprar algo.

Eu estava sentado na parte da frente, logo após a catraca, então quando fui olhar pra trás pra ver quem era, percebi que ele já estava bem próximo de mim, um senhor de bigode com alguns cabelos brancos bem penteados, calça jeans e camisa social quadriculada. Ele dava bom dia a cada pessoa do ônibus, sem ter resposta. Quando se dirigiu a mim, acenei o "bom dia" com a cabeça.

Nesse momento me senti mal pela indiferença das pessoas, inclusive da minha indiferença. Após uma certa insistência dele, a cobradora aceitou uma paçoca que ele estava vendendo, no que ele entregou-lhe três paçocas. Foi então que cutuquei o braço dele e perguntei:

- Quanto é o chiclete?
- Custa 1 real, mas na promoção eu faço 3 cartelas por 2 reais! Vale mais a pena!

Aí eu pensei "putz.... Eu sabia que o chiclete era 1 real, o preço costuma ser esse... era o que eu tava disposto a pagar, agora ele quer que eu pague 2 reais? E o que eu vou fazer com tanto chiclete?..."

Logo depois que pensei isso, me veio duas perguntas na mente: 2 reais vão me fazer tanta falta hoje? E quanto vale 2 reais pra esse senhor, que aparentemente não vendeu nada neste ônibus até agora?

Tirei os 2 reais da carteira, ele agradeceu e disse que eu poderia tirar as cartelas de chicletes de uma cesta que ele carregava. Tirei 2 cartelas de hortelã e uma de uva. Ele conferiu com o olhar e tirou panfletos do bolso. "Deus te abençoe!" disse ele enquanto me entregava um dos panfletos, um folheto com mensagens bíblicas. Ele ofereceu também para uma senhora que estava ao meu lado, que aceitou prontamente. Outras pessoas ao redor pediram também o folheto, para saber do que tratava.

Ele ficou satisfeito com isso e disse: "Sempre tem pessoas interessadas em ouvir a Palavra de Deus".

O que tenho a dizer sobre essa história, é que valeu a pena comprar aqueles chicletes. Ver aquele senhor com tanta disposição para trabalhar e para falar de Deus às pessoas, numa manhã nublada de segunda-feira, me ensinou muita coisa.

O preguiçoso deseja e nada consegue, mas os desejos do diligente são amplamente satisfeitos. Provérbios 13:4

0 comentários: (+add yours?)

Postar um comentário